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21 de abril de 2018

Hilf mir bitte

Suga-me este vazio letal
É o destino deste ser animal
Em contentamento ser banal
Travar esta inglória luta sem igual

Na loucura do descontentamento vejo tudo em slow motion, nada me prende a atenção.

O que produzo é lixo, um entulho de palavras empilhadas que me saem da ponta dos dedos, na esperança de um dia ser alguém de valor reconhecido.

Queria ser génio, poeta, cientista, escritor ou proxeneta. Queria ser algo, mesmo a sério, não um wannabe, não o esboço de uma tentativa de algo.

Sou um ser que não é.

Porque digo isto, porque penso aquilo. É isso!
Tenho de ser e pensar diferente, mas não sei como. Falta-me a arte e a energia.

Bem melhor estou, quando comparado ao tempo em que o mundo me assustava ao ponto de sair para comprar pão ser uma luta imensa.

Sinto-me a voltar a isso, mas sei que devo contrariar, fazer o oposto, e acreditar que o espectro do passado fóbico não volta mais.

14 de abril de 2018

Money

Money que é good, nóis não have (by Mamonas Assassinas)

Pois, é mesmo uma comédia existencial esta necessidade de o ter para conseguir viver.

Com pouco é o desespero, com algum sobrevive-se, mas só com bastante é que se pode viver.

Não é consensual concerteza, esta minha perspectiva, mas é o meu ponto de vista e de situação.

Tempos houve em que um ordenado me chegava para sobreviver e viver um pouco, mas longe vão esses tempos.

Debato-me essencialmente com dois factores, um que deveria controlar, mas não consigo, e outro que tento por tudo controlar.

Para ter mais dinheiro deveria poupar, mas é difícil querer viver e deixar de viver ao mesmo tempo. Se poupo não saio, não compro, não como, não bebo, não viajo, não fumo, e queria fazer tudo isso.

Por outro lado, deveria ser possível ganhar mais a troco do trabalho, mas parece missão impossível. Conseguir um ordenado razoável neste país é algo ao alcance de poucos.

Asfixia-me olhar para o extrato bancário, é só débito e valores com poucos dígitos ou perto do Nilo.

Trabalhei a vida toda e não consigo. Pergunto-me porquê, pergunto o que posso fazer melhor, onde falhei.

Às vezes apetece-me fazer algo ilegal para conseguir dinheiro fácil e sair deste buraco, mas nem para isso tenho arte.

A minha maior certeza vai sendo a de que o trabalho só serve para aguentar os mínimos, num sufoco eterno, uma obrigação para não afundar e viver o mínimo possível.

Mas é uma vida triste, em que é impossível aproveitar, porque tudo vai para pagar contas e vícios, a alimentação e despesas básicas.

Queria poder viajar, talvez seja por isso que viajei um dia em direção ao universo psicótico em que existo.

11 de abril de 2018

Lupa psicológica

A lupa é um objecto que nos ajuda a ver os detalhes, através do aumento de tamanho da imagem que por ela passa.

Muitas vezes usada por aqueles que têm já dificuldade para ler, pode ser um óptimo auxiliar para as leituras. Tantas vezes usada na botânica para observar os detalhes do material vegetal, e em tantas outras ciências onde se pretende observar o ínfimo.

Algures neste meu processo de tratamento da minha mente doente, houve um profissional de saúde mental que acertou em cheio... "É como se visse o mundo sempre com uma lupa, tudo ao perto, não é?"

- "Não é isso" - respondi eu precipitadamente

Já dei por mim tantas vezes a pensar o quão idiota fui ao dizer que não. Tolo.

É verdade, a partir nem sei bem de quando, passei a ver o mundo com uma lupa, a procurar esmiuçar tudo, ver o detalhe em cada coisa. Isso tornou-se tão intenso, essa forma de ver o mundo, que me tornei incapaz de ver a imagem geral das coisas.

Neste momento, tenho o conhecimento de que é errado observar o mundo dessa forma, mas nem sempre consigo evitar este processo. Tornou-se intrínseco à minha forma de analisar o que me rodeia, à minha dialética.

É esse acto de focar nas coisas mais ínfimas, não ser capaz de levantar os queixos e sair do olho do furacão. E, quando assim é, torna-se impossível sair da crise. A única solução é afastar para um plano superior, não adianta sair para os lados.