Pessoas são os outros, nós seremos sempre nós.
Assim parece ser para a maioria. Desprezamos outros por este ou aquele preconceito, admiramos uns quantos porque alcançam o que a nós nos parece tão difícil de conseguir.
Pensamos sempre que o melhor e o pior só acontece aos outros.
Para mim os outros são isso tudo, e sempre uma grande curiosidade de saber a fundo quem são. Gosto dos que falam abertamente sobre si, sejam tretas ou grandes verdades. Valorizo o discurso na primeira pessoa, aqueles que têm uma história para contar.
Talvez por sentir que não tinha história, por saber que não tinha vivido o suficiente para ter um passado merecedor de ser escutado, talvez por isso a minha mente entrou em declínio.
É o maior sentimento de vazio que o ser humano pode ter, não ter vivido e nada para contar. Seja aos outros, como a si mesmo.
Eterno espectador de uma existência ignóbil e nunca alcançando metas nem cumprindo desafios até ao fim, pendurado nas histórias de outros e no conhecimento contado, não vivido.
Para mim as pessoas são os actores do palco da vida. A mim parece-me que todos têm uma vida, menos eu. Até os que se dedicam a pouco fazer, parece que o fazem de forma mais completa, mais intensa e com mais detalhes.
Eu persistir na tentativa de construir a minha história, mas sempre com esse calcanhar de Aquiles, é tudo tão superficial... Seja a preguiça, o medo ou a falta de cognição sobre as coisas, ou a combinação de tudo isso, o resultado é algo amorfo e vulgar.
Não consigo destacar-me em nada do que faço. Talvez seja a polivalência a minha melhor característica, mas mesmo essa é tão limitada.
Tal como estes textos que escrevo, com uma profundidade oca, carregados de uma impressão individual tão desinteressante para a maioria, sem sumo de conhecimento que valha a pena a leitura atenta, senão para conhecer a mente do louco que habita dentro de um indivíduo minimamente socializado e padronizado.
Neste cenário todo as pessoas são a eterna variável que luto para compreender.
Ora quero proximidade e sentir-me, ora quero distância e estar na paz irrequieta da minha solidão.
De alguns tenho medo, só porque sim, por outros sinto respeito e admiração, outros fazem-me sentir minúsculo, triste, feio, burro, incompleto. Poucos me fazem sentir bem, a maioria faz-me sentir excluído.
A julgar pelo feedback que tenho, pela forma como sou rejeitado à partida, ou à posteriori, sou arrogante e fechado.
Já me disseram para sorrir mais, mas só consigo sorrir quando a alma está alegre.