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10 de junho de 2017

Segurança Interna

Os primeiros anos de vida são primordiais para o ser humano, e talvez todos os restantes mamíferos.
A capacidade de gerar os mais básicos sentimentos de segurança interior, está relacionado com o relacionamento de afecto e proteção dado pelos progenitores nos primeiros anos de vida.

Existe uma hierarquia, a mãe é o factor primordial no desenvolvimento futuro da criança.
O pai é importante, mais tarde.

Todas as relações falhadas mãe-criança, pai-criança e mãe-pai, resultam num jovem e adulto potencialmente desagregado.

Tendo sido essa a minha realidade, compreendo agora o que gerou toda a minha falta de segurança, a quase ausência de auto-estima, e toda a inabilidade social que se prolonga até hoje.

Uma mãe pouco presente, sem verdadeiro sentimento de amor por um filho indesejado; o pai também ausente por força de circunstâncias. E acima de tudo, um eterno conflito entre progenitores, e lados.

Uma mãe que não queria, mas também não largava, e, um pai que queria, mas estava longe, e apenas queria por sentimento de posse, imagem e moralismo.

Que caldo estranho na génese de um ser humano.

Há historias mais difíceis, e também existem outras tremendamente mais simples.

Anos volvidos, na sua maior parte passados junto ao lado paterno, num lar onde nunca fui querido, cheio de conflitos e agressões ao desenvolvimento pessoal - rebaixamento e anulação.

Cresci a ser a erva daninha da família paterna, o indesejado em segredo - o mundo das aparências manda que o comportamento esconda todo esse lado, todo o discurso é oposto - sem nunca ter tido falta do básico a nível material e emocional.
Cresci obrigado a ter de estar grato por migalhas.
Um corolário infeliz para um ego manco pelo falhanço afetivo dos primeiros anos de vida.

Todo o desenvolvimento ao longo dos anos foi como que uma consecutiva crise de identidade e de existência.

Que confusão.

Claro que esta é uma leitura demasiado pessoal, dir-se-á nada distanciada.

Todavia, após tantos anos a olhar para dentro, sempre num processo falhado que misturou a busca pelo melhoramento comportamental, a busca por respostas e o medo de agir, gerou num colapso.
O colapso gerou a imensa busca interior, com tantas leituras, a criação de uma pequena capacidade de convicção.

A medicação ajudou imenso, veio a abertura da mente, o pragmatismo e o distanciamento. Autênticos super poderes para esse ser desconfigurando e até à data manco dessas características.

Aos poucos, lentamente, a segurança interna vai aprofundando raízes. A capacidade de acreditar começa a trazer frutos, a relação com o exterior melhorou.

Foi um salvamento à última hora, quando a personalidade estava no limite de se perder para sempre num estado mental desgraçado pelo medo, a psicose e paranóia.

Nada disso desaparece, mas está controlado. Por vezes vem à tona, e tenho de deixar que respire. E tem de ser, essa parte sou eu também, se morrer eu morro também.

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