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13 de novembro de 2016

Passei ao lado de viver

Passei ao lado de viver, de ter uma vida, pelo que tenho sido um simples sobrevivente que assiste ao que se passa em seu redor.
Envolto na armadura da indiferença, da superioridade, e tantos outros adjetivos que fui reunindo para me ajudar a enfrentar o pânico que sempre senti.

Foi sempre num misto, da vontade imensa de querer pertencer e vivenciar, com o aspecto exterior de quem nada quer.

Por vezes consciente, mas em grande parte forçado a tal, pela incompreensão do que se passava à minha volta e do que os outros diziam. Tantas vezes auto-convencido de que assim a olhar para o chão conseguia passar despercebido, lá fui passando a infância, a pré-adolescência, a adolescência, a juventude, e o início da vida adulta.

Cheguei a um ponto em que não dava mais, era viver ou morrer. Procurei ajuda quando a confusão era assoberbadora, o medo me dominava e controlava.

Agora, depois de 3 anos sob medicação, muito disso se diluiu, felizmente. Não desapareceu, apenas se esbateu, tornei-me funcional e capaz de levantar a cabeça.
Mas continuo a observar com estranheza o que os outros dizem e fazem, percebo um pouco melhor, mas não consigo atirar-me para esse abismo que é interagir com as pessoas.
Essencialmente porque ainda acho que não é o certo, porque continuo sem compreender.

Pelo meio disso, tive, e tenho, períodos de positiva interação em que tudo parece ter desaparecido. Consigo quase ser um animal social, por estranho que pareça.
Pergunto, frequentemente, a mim mesmo quem serei eu na verdade. Concluo que não sei, às vezes, deduzo que sou um pouco dos dois, noutras vezes.

Viver nesta casaca protetora é estranho, por tanto a querer e tanto a abominar. Tudo quero do exterior, e nada me serve. Vivo nesta dualidade constantemente.

Com 35 anos, vivo constrangido com a minha incapacidade. Lamento e vivo frustrado com algumas coisas em particular, que são o facto de não ter tido sucesso académico, a instabilidade financeira constante, as amizades que não tive, nem tenho, as namoradas que não tive, as curtes que nunca consegui ter.

Chego a este momento da vida detestando-me pela minha incapacidade com o sexo oposto. Primeiro, por saber que racionalmente isso é tão vão. E até fui tendo namoradas ao longo da vida, não fui um completo incapaz nesta matéria. Em segundo, a verdadeira obsessão por querer ter essas vivências mais desprendida, os engates, as curtes, os flirts... Simplesmente incapaz a vários níveis.

Fico preso na vergonha, amarrado na baixa auto-estima, nervoso e sem perceber como fazer a coisa certa, acabo sempre por ser ríspido e indelicado, afugentou em vez de aproximar, não sei jogar, provocar interesse ou conquistar.

E isto é tudo tão oco, mas talvez seja esse oco que me falte para me preencher. Estranha contradição!

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